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Parei de matar!

Lucas Pereira

Atualizado: 26 de jan.


mãos recebendo luz, não matar
Parei de matar

Quando recordo de minha infância, percebo que apesar da vida difícil, ainda assim, eu era um garoto de sorte, cresci numa cidade pequena, tranquila e cercada de uma natureza exuberante, nas muitas horas vagas, eu e meus amigos fazíamos acampamentos, fogueiras, expedições na natureza e quase sempre íamos pescar, cada qual queria provar sua destreza e bravura pescando o maior peixe, era uma verdadeira disputa e todos queriam se sobressair, enquanto aguardávamos o peixe fisgar a isca, cada qual contava sua versão assustadora do riacho, um dizia que havia visto uma serpente de dois metros naquela margem, outro dizia que as traíras dali eram devoradoras de sapos e rãs, no entanto, ninguém se atrevia em desistir, afinal, éramos “homens de coragem”, lembro-me do dia em que por azar fisguei uma cobra d água no anzol, era verde, enorme e debatia-se enfurecida, fugimos desesperados deixando tudo pra trás, inclusive os caniços, nunca mais voltamos, acabamos mudando de riacho, a história de nossa cobra fez sucesso e nos tornamos celebridades, pescadores de feras aquáticas, contudo, aos poucos fui perdendo o prazer pela pesca e passei a me interessar por caça, nesta época todos os meus amigos caçavam de estilingue e suas sacolas sempre estavam cheias de pássaros abatidos, mas eu era o ponto fora da curva, nunca acertava nada, até que conheci o maior de todos os caçadores, seu tiro era certeiro e seu estilingue uma verdadeira arma de matar, tornei-me seu seguidor, e logo pedi que me ensinasse seus truques, então certo dia ele me revelou seu grande segredo, para ser como ele, eu deveria batizar o meu estilingue com o sangue fresco de um pássaro, eu deveria esfregar a madeira no corpo do pobre animal moribundo, segui seu conselho e quando finalmente acertei um infeliz pássaro, realizamos o batismo, no entanto, ao invés de me sentir realizado como um exímio caçador, confesso que senti apenas uma enorme repulsa e aversão daquela atitude cruel, foi a primeira e última vez que matei um pássaro com estilingue.

Minha relação com pássaros não terminou neste episódio, certa vez, meu finado pai que era fascinado por estes animais em cativeiro, construiu um viveiro enorme e gabava-se de sua coleção com várias espécies, tudo corria bem até que certa manhã, minha irmã por infelicidade foi alimentar os bichinhos e acabou esquecendo a portinhola aberta, quando meu pai regressou do trabalho para sua surpresa deparou-se com o cativeiro vazio, houve tanta discussão e conflitos em família por conta deste incidente, que daquele dia em diante prometi a mim mesmo: Nunca manterei pássaros em gaiolas!

Passaram-se os anos e tornei-me adulto, consequentemente deixei de pescar, caçar e manter animais presos em cativeiro, talvez meu contato com a natureza ainda na infância me fez perceber que matar ou fazer os animais sofrerem apenas por esporte ou entretenimento não passava de uma atitude irracional e desumana. Após meu casamento conheci a filosofia budista na qual assumi, entre outros compromissos, o de “não matar”, e isto incluíam também todos os animais. Em nossa cultura ocidental é bem estranho alguém se conter em não matar uma barata ou uma aranha, e adotando esta postura acabei virando motivo de piada entre meus familiares, hoje, confesso que a parte mais fácil deste processo foi aprender a conviver com os insetos, cada um no seu espaço é claro.

Atualmente continuo sendo uma pessoa privilegiada, minha residência é no litoral e durmo todos os dias ouvindo o belo som do mar, dirijo cerca de quarenta minutos até meu trabalho sendo que praticamente setenta por cento do trajeto é percorrido entre campos, rios, arvores e pássaros, e isto me deixa muito feliz, meu compromisso de “não matar” me abriu os olhos para perceber a beleza e grandiosidade que existe em cada ser vivo, cada paisagem e cada instante do dia. Parei de matar e aprendi a contemplar! Há quem ache graça e me chame de louco e existem loucos que me entendem, não sei quem está certo, só sei que me sinto muito melhor agora, depois que parei de matar!



Texto: Lucas Pereira

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